Estava assistindo o Jornal Hoje, quando me surpreendi com a seguinte frase, dita pela apresentadora Sandra Annenberg: "nós, os jornalistas somos treinados para cobrir tragédias e sobreviver a elas, mas é impossível não se colocar no lugar do outro. Nossas repórteres contam como ficaram marcados por essa cobertura". E foram exibidos os depoimentos.
“Uma imagem que não sai da minha cabeça é aquela imagem do Morro do Bumba, aquela avalanche de terra, de proporções gigantescas. O choro das pessoas, a gente passando pelas casas e ouvindo o choro das pessoas. Horrível. Uma situação que eu nunca vi na minha vida. Ao mesmo tempo, no Morro do Estado, no início da cobertura, em Niterói também, a gente viu uma história de esperança: uma mulher que foi resgatada depois de ficar onze horas embaixo dos escombros, os bombeiros festejando, a imprensa festejando. Fiquei muito emocionada... Era uma senhora que estava com o filho portador de deficiência. O filho morreu e ela foi resgatada com vida. Todo mundo vibrou muito porque é uma história de esperança no meio de tanta tragédia” – Flávia Jannuzzi.
“Começamos a sobrevoar a zona oeste, a área de Jacarepaguá e a primeira imagem que me marcou, a mim e ao repórter cinematográfico Francisco de Assis, foram as montanhas da cidade que estavam todas, nessa manhã, com filetes de água barrenta. Onde havia vegetação eram clareiras abertas. Onde havia casas era destruição. A gente olhava e dizia ‘Meu Deus, realmente atingiu a cidade toda’. A gente voou sete horas, foram sete horas de voo, a gente só descia para abastecer e era o dia do meu aniversário. Eu falei ‘hoje a comemoração vai ficar para outro dia, não vai dar’” – Mariana Gross.
“Eu assisti um pai, desolado, procurando pelo filho de 20 anos. Ele conseguiu salvar a mulher, as três filhas, mas ele estava desolado ali, dizendo que a casa dele estava de pé, mas que faltava o filho dele. É a primeira tragédia que eu cobri desde que fui ao Haiti. É impossível não fazer uma relação entre essas duas tragédias. A tragédia do Haiti ainda tinha a esperança de encontrar sobrevivente porque existiam frestas onde as pessoas podiam respirar, porque os escombros deixavam algum lugar onde elas podiam respirar. Ontem era barro e, quem ficou debaixo daquilo tudo, é quase impossível sobreviver depois de alguns minutos, algumas poucas horas. Isso fazia muita diferença. A gente andando e encontrando pessoas chorando e já sem esperança. Isso me deixou extremamente marcada” – Lília Telles.
Assista o vídeo aqui.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
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Bela sacada Vanessa! Na verdade, esse movimento da mídia falar dela mesma, detalhando seus processos de produção é relativamente novo e faz parte daquelas novidades que falei em aula. Lembra que falei sobre o estúdio como cenário, por exemplo, e a preocupação dos telejornais com a "transparência" dos processos??? É isso. E neste caso, mexendo até mesmo numa das questões mais caras ao jornalismo que é são os mitos da objetividade e da imparcialidade.
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