quinta-feira, 18 de março de 2010

Será que era comunismo?

Gosto muito de trabalhar com lembranças, resgatar histórias. Não é preciso ir longe para conseguir fatos interessantes. Pessoas comuns têm muito mais para contar do que se pode imaginar. E quem diria que ao procurar uma fonte para saber de suas memórias sobre a chegada da televisão iria descobrir que essa "tal caixa mágica" era vista como comunismo!

Sim, comunismo: “O comunismo pode ser definido como uma doutrina ou ideologia (propostas sociais, políticas e econômicas) que visa a criação de uma sociedade sem classes sociais. De acordo com esta ideologia, os meios de produção (fábricas, fazendas, minas, etc) deixariam de ser privados, tornando-se públicos. No campo político, a ideologia comunista defende a ausência do Estado. As idéias do sistema comunista estão presentes na obra "O Capital" de Karl Marx”.

Quem contou essa história foi dona Regina Gomes, nascida em Ibarama em 1931. Na década de 50, quando a televisão surgiu, ela só ouvia falar da existência desse aparelho. Conta que alguns tinham medo, outros ficaram fascinados. Mas Regina só foi ter um televisor em casa em meados dos anos 60, quando foi morar na Vera Cruz recém emancipada do 3º Distrito de Santa Cruz do Sul. Comprou um aparelho usado, não sabia como ligar e também nem fazia muita questão para não gastar luz, o que também era novidade para ela. No interior de Ibarama até o rádio precisava ser ligado nas enormes baterias pretas dos automóveis. “Comprei uma TV mesmo por causa dos guri, que sempre iam no salão para olhar”, revela, referindo-se aos filhos que procuravam os vizinhos e o salão de um armazém para ver televisão.

Como as pessoas diziam que a televisão vinha do comunismo, Regina achava melhor ter os filhos por perto quando o aparelho fosse ligado, para evitar que eles ficavam influenciados. Tinha hora certa para ligar o aparelho comprado de segunda mão, com imagem em preto e branco. Tudo era novidade, o que aparecia na tela fascinava os meninos. Mas dona Regina bem que desconfiava: “Será que isso é verdade, existe mesmo ou o que dizem é ilusão?”, indagava a dona de casa. Até hoje Regina diz ser um tanto desconfiada com o que passa na TV. Tem dois aparelhos em casa, que normalmente estão ligados para ter uma companhia, um barulho. Mas não gosta muito porque “as notícias na maioria das vezes são ruins, coisa que aí sim não deveria ser realidade”.

2 comentários:

  1. Jaque:

    A história muito original tinha que ser "economizada" para a próxima aula. Adorei.
    Vou esperar tu contar novamente na quinta, ok?

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  2. É, pela repressão que o país fazia contrário ao comunismo na época, as pessoas do interior, que não tinha tanto tato com as notícias políticas, tinham medo que qualquer coisa nova, estranha, fosse levar à esse pensamento político. Talvez por isso até hoje a gente encontra dificuldades ao procurar por pessoas mais velhas que acompanham TV, no interior.

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